Troço que tem fim.
Sujeito. Que não dura, que se extingue.
Míngua. Negócio finito, que finda.
Festa que termina. Coisa que passa, se apaga, fina.
Pessoa. Troço que definha.
Que será cinzas. Que o chão devora.
Fogo que o vento assopra. Bolha que estoura.
Sujeito. Líquido que evapora.
Lixo que se joga fora.
Coisa que não sobra, soçobra, vai embora. Que nada fixa.
A foto amarela; o filme queima, embolora; a memória falha; o papel se rasga, se perde, não se repete.
Pessoa. Pedaço de perda.
Coisa que cessa, fenece, apodrece.
Fome que se sacia. Negócio que some, que se consome.
Sujeito. Água que o sol seca, que a terra bebe.
Algo que morre, falece, desaparece.
Cara, bicho, objeto.
Nome que se esquece.
(Arnaldo Antunes)
Atos e papos, laços e abraços. Nem um vintém, elogio, apreço. The same path always, no time for risks. Mas uma vida não determina uma reputação. Fatos e boatos. Antes, ninguém. Agora, qualquer uma -- literalmente! De que adianta acertar? O erro sobrepõe a boa conduta. Aliás, que é boa conduta, afinal?
Algo determinado pela sociedade, que deve ser seguido fielmente por quem deseja ser visto com bons olhos, sem bem aceito. Livre-arbítrio é balela, mas virou clichê. Parafraseando Cecília, a liberdade é um sonho que o humano alimenta, mas que não há ninguém que explique ou não entenda. Então não sou humana, sou bicho. Irracional, pois não entendo. "Errar é humano": outro clichê. Mas por quê? Clichê, segundo o Aurélio, é uma imagem visual muito comum. Comum por ser verdade. Mas o erro não é tido como natural. Ou é?
Para quê minha boa conduta? Para alguém. Quem? Eu. Continuo uma qualquer; ou mais uma. O consolo é a certeza de que amanhã serei nada de novo. Sujeito finito, que finda. Porque sou ninguém que, quando alguém, um nome que se esquece.
A bolha acaba de estourar.
LC.
2 comentários:
Cautela ao envolver-se com as palavras, sentimentos, questionamentos. São tão complexos quanto a nossa origem e o nosso destino.
Ser notada por um erro é um ótimo sinal, ao menos pra mim. A personalidade construída com bases na boa conduta é notada sempre, porém divulgada a partir do primeiro "errinho".
Boa conduta é agir de maneira que te faça se sentir bem ao falar o próprio nome. Reputação fica à critério dos outros, dos OUTROS. Não deve ter tanta importância assim.
Adorei o blog, Maninha! E desculpa aparecer sem convite, mas não resisti. =X
Abração =D
Tão clichê como Livre-Arbítrio é a canção do Rei, onde diz: "se chorei ou se sofri o importante é que emoções eu vivi!".
Certo. Caiu na boca do povão, na novela das 20h, no orkut dos demais. Caiu, ficou em cena. Virou notícia. Frases são ditas, gestos são vistos, porém esquecidos!
Ficam na memória de quem quer. E digo mais, DE QUEM QUER!
O bom da vida é que sempre há um dia após o outro!
E se coisas boas são esquecidas por outras melhores ainda, imagina as que não têm nenhuma importância?
Vão pro lixo..."Lixo que se joga fora", como o Arnaldo mesmo disse.
E sem direito a coleta seletiva para esse, em específico, pedindo desculpas aos ambientalistas de plantão!
;)
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