Conhecido por utilizar humor e cores extravagantes em seus filmes de início de carreira, Almodóvar parece ter mudado o foco de suas últimas produções cinematográficas. Fale com ela é prova disso. O espanhol trata do amor de uma maneira singular, mesmo este sendo talvez o tema mais abordado por aí.
A trama gira em torno de dois homens, Marco e Benigno, dotados de uma esperança que possa despertar suas amadas do coma. O primeiro deles se envolve com Lydia, uma toureira capaz de enfrentar seis animais ferozes, ao mesmo tempo, em uma arena. O outro é obcecado por Alicia, uma bela bailarina por quem nutre um amor platônico. Os dois se conhecem no hospital onde cuidam das doentes, e tornam-se amigos.
Apesar de emotivo, Marco não consegue demonstrar seus sentimentos para Lydia, já que essa está em cima de uma cama e a parte de seu cérebro que comanda sentimentos e idéias fora comprometida. Assim, de nada adiantaria conversar com ela. Essa linha de raciocínio, contudo, é diferente da adotada pelo enfermeiro Benigno, homem de personalidade única que cuida incansavelmente da pele, do corpo, dos cabelos e de tudo o que, enfim, está relacionado à Alicia, não deixando de falar com ela nem um segundo sobre tudo o que um dia atraíra a atenção da jovem: dança, teatro e cinema, sobretudo mudo. Sua dedicação pela moça é explícita e mostra que o amor não é um sentimento carnal. Eis aí o que aproximará os protagonistas, fazendo com que Marco transforme-se.
Rousseau disse: "Se é a razão que faz o homem, é o sentimento que o conduz." De fato, é o que acontece. Marco deixa de ser um homem guiado pela razão e sua amizade com o enfermeiro faz com que seus laços afetivos, antes reprimidos, estreitem-se e tornem-se latentes, permitindo que ele ame desesperadamente. Um amor não-carnal, repito, sem intenções sexuais e que não separa certo ou errado.
É engraçado perceber a falta de comunicação, considerada um dos principais motivos os quais levam relações ao fim. Os protagonistas não são ouvidos pelas amadas (fato ainda mais curioso, já que são as mulheres que sempre convocam as chamadas "DR"); no entanto, são os monólogos por eles praticados que alimentam e sustentam o sentimento existente e são mais fortes que diálogos.
O filme traz a idéia de que não deve-se guardar o que há para ser dito; talvez não haja outra oportunidade para fazê-lo. E o arrependimento é a pior das sensações. Dead poets society fala de coisa parecida. Aguarde as cenas do próximo capítulo.
(LC.)
segunda-feira, 30 de junho de 2008
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Um comentário:
E isso tudo NAO me parece paradoxo, aliás, o platonismo no amor é como um coma material. Desesperadamente trança cordas infinitas e distantes que separam o amor fadigado até a jovem muda e não adianta insistir: o lado que dizes cerebralmente comprometido, assim acontece com os humanos, nunca escutamos nosso amor tão perto e tão distante.
Ah, mas esse blogger toma seu rumo, tão crônica como resenha, mas a escrita rápida de quem o faz tem seus objetivos. Acompanhemo-la.
Boa sorte nas letras e quem sabe: no Amor.
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